quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Substituta_2



     Acordei no dia seguinte com a cabeça pesada, aquela cena ficava se repetindo durante o meu sono e quanto mais eu tentava esquecer eu não conseguia, segui para o banheiro e tomei um banho. Sequei meus cabelos ruivos e olhei para mim mesma no espelho procurando por aquele verde belo e iluminado que habitava os meus olhos, mas no lugar de tão bela cor estava um verde sem vida e tristonho.
      Desci as escadas e peguei uma torrada, dei bom dia ao meu pai e logo depois me dirigi à escola sem ao menos ouvir o que ele dissera, acho que era algo relacionado a tomar o café da manhã direito ou algo assim. Caminhei por aquela rua calma e passei pelo muro onde o evento do dia anterior ocorrera, gotas do sangue daquela garota estavam ali e a cena se repetiu novamente em minha mente, quando fui interrompida por alguém.
      - Bom dia! – um rapaz alto, loiro e de olhos claros me cumprimentou. – Você é a garota que se mudou para aquela casa ali não é?
      - Nossa! Péssima maneira de puxar assunto. – uma garota de longos cabelos loiro e olhos de mesma cor aparece por detrás do rapaz e estende sua mão para me cumprimentar. – Prazer, meu nome é Ana, e esse galanteador aqui se chama Abel, somos seus vizinhos.
    - Prazer. – respondi me forçando a dar um sorriso. – Meu nome é Laura.
    - Bom, acredito que estudaremos juntos, se importa de irmos para a escola com você?
    - De forma alguma. – caminhamos juntos até a escola, a garota falava demais, o garoto às vezes, e eu ficava calada ouvindo os meus novos “amigos”, pelo menos as besteiras que eles falavam me distraiam um pouco.
    As aulas seguiram monótonas, aquele era um típico colégio como outro qualquer, existiam grupos de populares, nerds e etc., mas alguém não se encaixava em nenhum deles, era a garota de longos cabelos negros e olhos azuis. Eu tentei me aproximar dela diversas vezes a fim de perguntar se ela estava bem, mas toda vez que eu ia em sua direção ela fugia. Eis que a ultima aula é dada, e todos se põem a sair do colégio, quando de repente uma pessoa é empurrada e seus cadernos são lançados ao chão, era a garota.
    As pessoas a rodearam e começaram a ofendê-la, encara-la, rirem. Eu mais uma vez não suportei, corri em direção à garota, a levantei do chão e gritei para que eles parassem. Um silêncio mortal tomou conta do lugar. Sai dali ajudando a garota e a levei até a sua casa, permanecemos assim, caladas por todo o percurso até finalmente chegarmos a um casarão velho que ficava do outro lado da cidade.
      - Bom, acredito que chegamos. Até mais, e tome cuidado com esses idiotas. – falei me virando e começando a andar em direção a minha casa, quando pude ouvir um baixo e quase inaudível agradecimento. – De nada. – respondi tomando meu caminho de volta.
       Demorei cerca de vinte minutos para chegar em casa, notei que o almoço estava posto no micro-ondas como de costume, esquentei a comida e a devorei seguindo para a pia e limpando a louça. Me dirigi às escadas para poder me deitar e descansar um pouco no meu quarto quando a campainha toca. Fui em direção à porta e quando a abri não havia ninguém, sai de casa e desci escadinhas e olhei ao meu redor, mas não havia nenhum sinal de que alguém passara por ali, quando notei uma caixa preta posta na minha frente.
      Peguei a caixa meio apreensiva, olhei a minha volta mais uma vez e voltei para dentro. Coloquei a caixa na mesa da cozinha e cuidadosamente abri a tampa, dentro dela havia algo envolto a um pano branco. Tirei o pano e acabei me assustando, era uma boneca, muito bonita, mas igualmente assustadora, e o que mais me intrigava, ela tinha longos cabelos negros e olhos azuis, como os daquela garota; mas algo se apresentava estranho no brinquedo, o braço da boneca estava quebrado.
         Soltei a boneca na caixa e corri em direção à porta e olhei para fora novamente, me certificando que não havia ninguém, voltei para dentro e tranquei a porta, certo medo tomou conta de mim Porque aquilo me assustava tanto? Porque a boneca se parecia tanto com aquela garota? Porque me entregaram aquilo? Porque ela estava com o braço quebrado? E afinal de contas, o que estava acontecendo nessa droga de cidade?


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