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Eu olhava para aquelas arvores tentando
afastar aqueles pensamentos, mas era inútil. Por mais que tentasse as
lembranças daquele momento não iam embora. É verdade que eu nunca gostei da
ideia de ter que me mudar, mas agora acredito que talvez sair daquela casa
seria algo bom.
Chegamos à casa depois de algumas
horas, ela tinha dois andares, era totalmente feita de madeira e o que mais me
intrigava, não tinha muros, alias nenhuma das poucas casas daquela vila, ou
melhor, cidade, possuíam muros. Desci da caminhonete e peguei uma caixa, quando
meu pai me parou.
- Continua brava por termos mudado? –
ele pergunta com um sorriso tristonho.
- Para falar a verdade não, afinal,
trabalho é trabalho. – sorri; meu pai era delegado na nossa antiga cidade, ele
me disse que ele foi transferido e isso era o porquê da mudança, mas eu sabia
que talvez, a transferência teria sido pedida por ele.
Ele sorri mais uma vez, pega uma das
caixas e caminhamos juntos em direção a nossa nova casa. Subimos pela pequena
escada que nos dava acesso à porta, ao pisa-la rangidos podiam ser ouvidos,
rangidos estes, admito, um tanto assustadores; alias, a casa era assustadora,
mas possuía lá sua beleza.
Abrimos a porta e de pouco a pouco
descarregamos a caminhonete. Meu pai começou a desembalar as coisas quando
passei por ele.
- Laura? Onde você está indo? Não vai me
ajudar com a mudança?
- Já ajudei o suficiente, já que você me
obrigou a mudar para esse fim de mundo eu tenho todo o direito de relaxar um
pouco.
- Nada disso mocinha, pode ir
desembalando as suas coisas e as arrumando!
- Corta essa pai! Eu arrumo minhas coisas
depois, considere a minha saída como, vejamos... uma pesquisa de campo, afinal
eu tenho que conhecer a vizinhança, fazer amiguinhos e me adaptar a esse
habitat. – dou um sorriso. Meu pai sorri de volta e assente com a cabeça.
Andei por aquelas ruas escuras
admirando o céu, o céu daquela cidade parecia ter mais estrelas, era lindo. Uma
corrente de ar frio toca o meu corpo, fazendo com que eu estremeça, quando de
repente vejo algo que me faz sentir uma mistura de descrença e fúria, três
rapazes encurralaram alguém contra o muro e estavam chutando-o. A pessoa ficava
ali, encolhida, com as mãos bloqueando o rosto e soltando alguns gemidos de dor
enquanto era espancada.
Não consegui me segurar, e quando dei
por mim já estava correndo em direção aos rapazes, gritando. Eles notam minha
presença e se afastam dali, deixando aquela pessoa com uma blusa de frio e
capuz jogada no chão e tremendo. Me aproximei com cuidado.
- Você está bem? – perguntei retirando o
capuz da pessoa, notei que era uma garota, uma bela garota de cabelos negros e
olhos azuis.
A garota me encara assustada, me da um
empurrão e sai correndo em direção à escuridão daquelas ruas. Eu não podia crer
no que tinha acabado de ver, porque aqueles caras estavam agredindo aquela
garota? Lembrar daquela cena me dava nojo. Caminhei de volta para casa e me
deparei com o meu pai preparando o jantar.
Fui em direção a ele e lhe dei um
beijo de boa noite.
- Não vai jantar? – ele pergunta.
- Não, perdi a fome. – falei subindo
as escadas que também fazia uma espécie de rangido.
Entrei no lugar onde seria o meu
quarto, eu o escolhi por ter uma janela incrivelmente grande que dava acesso ao
teto. Pulei a janela e me sentei no teto para olhar as estrelas, a cena que eu
acabara de ver se repetia constantemente, fazendo com que a beleza das estrelas
não fossem capazes de me acalmar. Eu perguntava a mim mesma o que se passava
nesta cidade. O frio fez com que eu despertasse dos meus pensamentos, decidi
entrar e dormi, antes de me virar para entrar no quarto olho mais uma vez para
fora, assustada, eu poderia jurar que estava sendo observada por alguém.
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