domingo, 9 de março de 2014

MAS TOME CUIDADO COM O CABO DA VASSOURA, É PIOR DO QUE CENOURA, VOCÊ PODE SE DAR MAL.

Acho muito divertida essa rivalidade criada entre as duas principais metrópoles de país. A disputa entre paulistas e cariocas já faz parte da cultura nacional e até proporciona um charme entre os dois estados (Sim, eu sei que o correto seria escrever paulistanos e cariocas, ou no caso de expandir a rivalidade a nível estadual, paulistas e fluminenses. Mas a cultura popular batizou a rixa RioXSP dessa forma). Seja no campo do futebol, das artes da política, sempre paulistas e cariocas tentam se vangloriar dos seus feitos e consequentemente diminuir os do rival. Mas não tenho dúvida que tudo isso não passa de uma saudável brincadeira e todo mundo concorda na importância das duas cidades para o país e até para a America do Sul.

E hoje, tive que me render aos amigos cariocas que vivem tirando sarro comigo, um paulistano nascido e criado nessa cidade: O embrião da revolução será gerado no Rio de Janeiro. O que vimos na capital fluminense essa semana foi lindo. A mobilização e vitória dos garis é algo que merece destaque no histórico das lutas recentes da classe trabalhadora. A capacidade de organização de uma profissão desprezada pela sociedade realmente impressionou. Quem acompanhou o desenrolar da greve de longe como eu, pode observar uma categoria muito bem estruturada, com objetivos claros e acima de tudo, coragem para enfrentar os mais poderosos grupos. Como acreditar na vitória de uma classe trabalhadora, formada em sua imensa maioria por negros, favelados e com baixo grau de instrução? Pois a vitória veio e de maneira retumbante. Os 37% de aumento é uma conquista para inflar de orgulho todos os garis. Não apenas pelo valor real que isso representa no bolso, mas pelo simbolismo. Não me recordo de ter visto, ao menos recentemente, outra categoria ter conseguido um aumento tão significativo ao final de uma greve. Todos os envolvidos estão de parabéns, mas não só eles.

O prefeito Eduardo Paes, certamente não gostou nada de ter cedido nessa queda de braço. E nem estou questionando a administração Paes, ou a lisura do prefeito. Talvez ele pessoalmente até gostasse de oferecer o reajuste salarial, mas é claro, 37% é um valor significativo nos cofres do município (Estimado em R$ 400 milhões por ano). Certamente, Paes não concedeu o aumento por caridade. O aumento somente saiu devido o apoio da população ao movimento grevista. A tentativa da imprensa em jogar os trabalhadores contra a sociedade, mostrando a Cidade Maravilhosa imunda, não deu certo. O a prefeitura pressionada não teve outra saída a não ser atender a reivindicação trabalhista. Fosse aqui em São Paulo, certamente a população estaria indignada com “esses vagabundos que em vez de trabalhar ficam ai fazendo baderna”. Uma matéria do SPTV mostraria a cidade suja com lixo espalhado pelas ruas. E a noite no Jornal do SBT, veríamos uma Rachel Sheherazade indignada com os desmandos de um país que tolera que garis de organizem, e em nome da ordem e do progresso exigindo que o Estado, através de seu aparelho repressivo, de fim a esse caos (Em termos coloquiais, descesse a borracha nos grevistas). E nos sofás das salas, as famílias paulistanas aplaudiriam e endossariam nas redes sociais o coro. Quem esses lixeiros pensam que são para perturbar a paz e a ordem pública?



Quem não se lembra de Boris Casoy, um dos ícones da direita brasileira, em uma falha técnica da TV Bandeirantes, humilhando ao vivo dois garis que desejavam um feliz ano-novo aos telespectadores do Jornal da Band, no último dia de 2009? “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades. Do alto de suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho”. Para quem não sabe, não lembra ou tenta esquecer, Casoy foi um dos membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas), um aparelho informal do regime militar que como o nome sugere, era pago pela ditadura para matar simpatizantes do comunismo. O desdém com que Boris Casoy foi flagrado nessa situação é o mesmo das elites para com a classe trabalhadora. A vitória dos garis cariocas é uma vitoria de todo o proletariado. É a prova que a poder está nas mãos dos trabalhadores, que sim, somos fortes.


Sinceramente fiquei curioso em ver a cara, depois de consolidado o reajuste salarial, daqueles garis que não aderiram à paralisação. Daqueles que protagonizaram aquela cena patética de pedir escolta policial para trabalhar. Esses mesmos que tentaram por tudo a perder. Pois é, eles também terão o reajuste. Mas imagine o momento de abrir o contracheque, e olhar aquele aumento salarial. Lembrar que foi uma conquista que ele não participou, alias, fez o possível para atrapalhar. Ou ainda, chegar em casa e encarar o filho gritando: Parabéns pai, eu vi na televisão. Vocês conseguiram! Os amigos no boteco, batendo no ombro dizendo: Cara, que vitória hein? E no intimo saber que os cumprimentos são indevidos, que a vitória foi daqueles que por covardia, não apoiei. E tentar o possível para meu filho e meus amigos não descubram que sou um pelego. Esses ai bem que podiam devolver o aumento. Reconhecer não ser merecedor dele. Não... a lei não permite isso. Então, doar, enterrar ou atear fogo na diferença. Assim tentar esquecer essa vergonha. Se bem que não precisa. Encarar os colegas de trabalho na segunda feira já é punição suficiente. 

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