quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AQUELE NATAL DE 1987 OU 1988

Dezembro continua sendo meu mês favorito. Principalmente pelas festas. E o Natal? Não é uma festa religiosa? Sim, mas seria muita falta de noção deixar de curtir todo o clima por uma simples birra contra o cristianismo. O Natal é uma festa que faz parte da cultura ocidental, inclusive, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo em 25 de dezembro tem um sentido muito mais político do que histórico. O 25 de dezembro somente foi instituído como o Natal cristão por volta do século V, depois da formação da igreja católica. A data aliás, está ligada a estratégia expansionista do Império Romano. Os romanos tinham por característica agregar a cultura dos povos conquistados a sua cultura, como forma de evitar maiores resistências. Os povos pagãos no Norte da Europa celebravam o solstício de inverno com festejos e assim, a data acabou sendo incorporada no calendário cristão.

Mas isso pouco importa nos dias atuais. Nessa data, minha família está reunida, meus amigos também e para mim isso é o que vale; consigo estar junto das pessoas que amo. Pego carona no clima como outras muitas pessoas não cristãs que enxergam a data como parte da cultura que estão inseridas. Entretanto, uma das melhores recordações de tenho do Natal vem de muitos anos atrás. Estava lembrando-me dia desses, acho que graças ao Natal que virei comunista! Paradoxal, não? Meu pai sempre foi metalúrgico e envolvido no movimento sindical. Durante minha juventude, fiz parte de movimentos sociais e até dentro da estrutura da Igreja Católica, estive próximo da Teologia da Libertação. Contudo, se eu tivesse que escolher um momento para definir como inicio da minha militância seria no Natal de 1987 ou 1988 (não me lembro ao certo).




Estava eu com minha mãe em uma noite de 24 de dezembro fazendo nossas compras de Natal. Acredito que era por volta de 20:30, 21:00, pois minha mãe estava apressada para voltar para casa. Estávamos na antiga Lojas Glórias, da Vila Formosa, bairro da Zona Leste paulistana. Minha mãe chamou um taxi e estava colocando as sacolas no carro enquanto eu me regojizava com meus brinquedos ainda nas caixas. Quando entramos no carro, olhei e vi alguns garotos de rua maltrapilhos, brincando na calçada. Então no ápice da minha inocência perguntei para minha mãe, porque eles não estavam trocados para o Natal. O diálogo seguiu mais ou menos assim:

- Mãe, por que esses meninos não se trocam para o Natal?
- Porque eles não têm dinheiro para comprar roupas.
- E o pai deles? Por que não compram?
- O pai deles também não tem dinheiro.
- E quem compra o brinquedo deles?
- Eles não têm brinquedos. Lembra que nós separamos alguns brinquedos seus? Então, é para dar para essas crianças que não tem.

Foi aí no alto dos meus sete ou oito anos que percebi que havia algo muito errado nesse mundo. Conversei hoje mesmo com minha mãe sobre esse fato. E ela se lembra vagamente do episodio. Mas para mim, jamais saiu da mente. E o resto vocês já sabem. Muito pouco mudou desses 25 anos para cá. Mas fico feliz em perceber que não perdi minha capacidade de indignar-me. Quando crianças, percebemos coisas que quando adultos acabamos por nos acostumar. Li em um livro uma vez que as crianças têm muito em comum com os filósofos, pois “A única coisa que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas.” Feliz Natal amigos cristãos, Feliz Solstício de Inverno aos povos pagãos do Hemisfério Norte, Feliz Solstício de Verão aos povos do Hemisfério Sul e Feliz Festa de fim de ano a todos que quiserem (E puderem) comemorar. E que a chama de criança permaneça sempre acesa em vossos corações. 

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