Dezembro continua sendo meu mês
favorito. Principalmente pelas festas. E o Natal? Não é uma festa religiosa? Sim,
mas seria muita falta de noção deixar de curtir todo o clima por uma simples
birra contra o cristianismo. O Natal é uma festa que faz parte da cultura
ocidental, inclusive, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo em 25 de
dezembro tem um sentido muito mais político do que histórico. O 25 de dezembro
somente foi instituído como o Natal cristão por volta do século V, depois da
formação da igreja católica. A data aliás, está ligada a estratégia
expansionista do Império Romano. Os romanos tinham por característica agregar a
cultura dos povos conquistados a sua cultura, como forma de evitar maiores resistências.
Os povos pagãos no Norte da Europa celebravam o solstício de inverno com
festejos e assim, a data acabou sendo incorporada no calendário cristão.
Mas isso pouco importa nos dias
atuais. Nessa data, minha família está reunida, meus amigos também e para mim
isso é o que vale; consigo estar junto das pessoas que amo. Pego carona no
clima como outras muitas pessoas não cristãs que enxergam a data como parte da cultura
que estão inseridas. Entretanto, uma das melhores recordações de tenho do Natal
vem de muitos anos atrás. Estava lembrando-me dia desses, acho que graças ao
Natal que virei comunista! Paradoxal, não? Meu pai sempre foi metalúrgico e
envolvido no movimento sindical. Durante minha juventude, fiz parte de
movimentos sociais e até dentro da estrutura da Igreja Católica, estive próximo
da Teologia da Libertação. Contudo, se eu tivesse que escolher um momento para
definir como inicio da minha militância seria no Natal de 1987 ou 1988 (não me
lembro ao certo).
Estava eu com minha mãe em uma
noite de 24 de dezembro fazendo nossas compras de Natal. Acredito que era por
volta de 20:30, 21:00, pois minha mãe estava apressada para voltar para casa. Estávamos
na antiga Lojas Glórias, da Vila Formosa, bairro da Zona Leste paulistana. Minha
mãe chamou um taxi e estava colocando as sacolas no carro enquanto eu me
regojizava com meus brinquedos ainda nas caixas. Quando entramos no carro,
olhei e vi alguns garotos de rua maltrapilhos, brincando na calçada. Então no ápice
da minha inocência perguntei para minha mãe, porque eles não estavam trocados
para o Natal. O diálogo seguiu mais ou menos assim:
- Mãe, por que esses meninos não
se trocam para o Natal?
- Porque eles não têm dinheiro
para comprar roupas.
- E o pai deles? Por que não
compram?
- O pai deles também não tem
dinheiro.
- E quem compra o brinquedo
deles?
- Eles não têm brinquedos. Lembra
que nós separamos alguns brinquedos seus? Então, é para dar para essas crianças
que não tem.
Foi aí no alto dos meus sete ou
oito anos que percebi que havia algo muito errado nesse mundo. Conversei hoje
mesmo com minha mãe sobre esse fato. E ela se lembra vagamente do episodio. Mas
para mim, jamais saiu da mente. E o resto vocês já sabem. Muito pouco mudou
desses 25 anos para cá. Mas fico feliz em perceber que não perdi minha
capacidade de indignar-me. Quando crianças, percebemos coisas que quando
adultos acabamos por nos acostumar. Li em um livro uma vez que as crianças têm
muito em comum com os filósofos, pois “A única coisa que precisamos para nos
tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas.” Feliz
Natal amigos cristãos, Feliz Solstício de Inverno aos povos pagãos do
Hemisfério Norte, Feliz Solstício de Verão aos povos do Hemisfério Sul e Feliz
Festa de fim de ano a todos que quiserem (E puderem) comemorar. E que a chama
de criança permaneça sempre acesa em vossos corações.
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